Vancocinemia: quando e como solicitar o exame?
Considerações iniciais
Uma vez atingida a concentração-alvo, a vancocinemia e a concentração sérica de creatinina devem ser monitoradas ao menos semanalmente. Quando se trata de infecção suspeita ou comprovada por Gram positivos multirresistentes, a vancomicina, um antibiótico glicopeptídeo inibidor da síntese da parede celular, tem lugar de destaque no tratamento, principalmente em relação aos Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA). Quando se trata do uso de vancomicina devemos dar atenção especial à individualização da terapia e fazer uso de um recurso nem sempre disponível: o monitoramento da concentração sérica de vancomicina, ou vancocinemia.
Entretanto, para dosagem e administração adequadas dessa droga temos de considerar o local e a gravidade da infecção, o peso (peso corporal real) e a função renal do paciente, além da suscetibilidade ao patógeno.
Situações indicadas
Para infecções profundas, como endocardite, osteomielite, infecções em próteses, pneumonia grave, meningoencefalite e sepse, a dose de ataque da vancomicina pode ser entre 25-30 mg/kg arredondada para cima para um múltiplo de 250. Exemplo: um paciente com 70 kg receberia a dose de ataque entre 1750-2100 mg, podendo ser arredondada para 2000 mg. A dose de manutenção é de 15-20 mg/kg/dose, geralmente de 12/12h para pacientes com função renal normal, visando uma vancocinemia alvo de 15-20 µg/ml.
Em casos de infecções de gravidade menor, a dose de ataque da vancomicina não deve ser realizada e a dose de manutenção é de 15-20 mg/kg/dose a cada 12h, não excedendo doses únicas de 2 g. A vancocinemia mínima deve estar em torno de 10-15 µg/ml.
Para pacientes com depuração renal aumentada, grandes queimados ou pacientes jovens com função renal normal, pode ser necessária a administração de vancomicina três vezes ao dia (8/8h) para se atingir a vancocinemia desejada.
Em doentes renais será necessário aumento do intervalo entre as doses ou redução destas. No contexto de função renal estável e ausência de disfunção renal significativa, a concentração sérica de vancomicina deve ser medida 30 minutos antes da infusão da quarta dose a contar da dose inicial ou ajuste da dose. Em pacientes com função renal instável, a vancocinemia deve ser determinada em medições pontuais cujo intervalo é determinado pela taxa de variação da função renal (estimada pelas alterações da creatinina sérica). A monitorização da concentração pontual no tempo é então repetida até que a função renal esteja estável e um intervalo de dosagem regular possa ser estabelecido.
Uma vez atingida a concentração-alvo, a vancocinemia e a concentração sérica de creatinina devem ser monitoradas ao menos semanalmente nos seguintes casos:
Para pacientes com função renal estável que não se encontrem nessas categorias não há necessidade de vancocinemia de rotina, uma vez atingida a concentração mínima alvo. No entanto, a monitorização rotineira da função renal deve continuar e, em caso de alteração, a vancocinemia e o ajuste pertinente da dose devem ser realizados.
Por fim, vale ressaltar: quando a solicitação de vancocinemia é justificada para a individualização da terapêutica? Principalmente nas seguintes situações: doentes críticos, infecção grave ou invasiva, função renal alterada ou flutuante, obesidade mórbida (IMC ≥ 40 kg/m²), idade avançada, falta de resposta clínica adequada após três a cinco dias de terapia com vancomicina ou uso concomitante de drogas nefrotóxicas (aminoglicosídeos, piperacilina-tazobactam, anfotericina B, ciclosporina, diuréticos de alça, anti-inflamatórios não-esteroidais e radiocontraste).